POEMA #4
Palavras
Palavras
tantas vezes perseguidas
palavras
tantas vezes violadas
que não
sabem cantar ajoelhadas
que não se
rendem mesmo feridas.
Palavras
tantas vezes proibidas
e no entanto
as únicas espadas
que ferem
sempre mesmo se quebradas
vencedoras
ainda que vencidas.
Palavras por
quem eu já fui cativo
na língua de
Camões vos querem escravas
palavras com
que canto e onde estou vivo.
Mas se tudo
levam isto nos resta:
Nem outra
glória há maior do que esta.
Manuel Alegre
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Quando as
crianças brincam
E eu as oiço
brincar,
Qualquer
coisa em minha alma
Começa a se
alegrar.
E toda
aquela infância
Que não tive
me vem
Numa onda de
alegria
Que não foi
de ninguém.
Se quem fui
é enigma,
E quem serei
visão,
Quem sou ao
menos sinta
Isto no
coração.
Fernando Pessoa
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POEMA #6
Natal... Na província neva.
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!